"Harry Potter com ácido" foi a analogia que um dos atores fez em uma entrevista quando o entrevistador propôs uma comparação entre as duas obras, a da J. K. Rowling e a série "The Magicians" da Syfy, que é baseada na obra do autor norte-americano Lev Grossman. E a comparação não é atoa. The Magicians conta a história de Quentin Coldwater, um nerd depressivo com histórico psiquiátrico que é convidado a frequentar uma escola secreta de magia, Brakebills, no norte de NY e descobre não só que magia existe, mas que seu sentimento de não pertencimento no mundo que o levou ao sofrimento e à internações era na verdade devido ao fato dele ser um mago vivendo uma vida sem magia.
Embora Quentin seja o personagem que apresenta o expectador ao mundo da magia e a Brakebills, logo no início o leque de personagens cresce, cada um com uma bagagem e conflitos diferentes, e traz diversos enredos entrelaçados seguindo uma história principal. Mas as similaridades, que não são poucas - na própria série não faltam piadas e referências à Harry Potter e outras séries de fantasia - acabam por ai. Sim, boa parte da história se passa em uma escola magicamente escondida em NY, com especializações que acabam separando seus alunos em "repúblicas" além de existir muitas referências de Nárnia também - uma vez que existe um mundo paralelo fantástico repleto de magia, chamado Fillory, ao qual alguns personagens acessam entrando por um velho relógio - mas, a série é muita coisa, menos infantil.
E como ou com o que The Magicians se parece com RPG? Além de todo teor fantástico de um cenário de magia moderno, e o conteúdo adulto - que a principio parece se limitar a sexo, drogas e festas, mas que evolui a cada episódio - o cenário apresenta diversas criaturas, desde vampiros e demônios à divindades. Mas calma, isso não quer dizer que é um cenário feliz, ele está mais para o Mundo das Trevas do que para Harry Potter. Tirando o fato de que os magos fazem magia principalmente através de fórmulas, desenhos arcanos e intricados movimentos de mãos que mais parecem jutsus de Naruto, toda cor existente na série (e falo como metáfora) está mais para a loucura psicodélica oferecida em "Changeling, Os Perdidos".
O cenário possui uma fauna rica de criaturas, embora ela costuma possuír uma vida muito mais sutil do que os monstros de Supernatural, uma vez que o foco são os magos, e não elas. E explora também um tema bastante comum em jogos que se focam em magia, que são os magos marginais, representados pelos "Hedge Witchs" na série, em contraponto dos magos tradicionais que frequentam a universidade. Apesar disso e apesar de explorar uma grande gama de personagens em vários locais do mundo (e de outros mundos), Brakebills é, à principio, tão núcleo do mundo mágico como Hogwarts o é de Harry Potter. No entanto, o mundo de The Magicians é consideravelmente mais rico e bem construído que do que o do cenário harrypotteriano.
Um jogo que tenha como base The Magicians não precisaria se focar ou localizar particularmente na universidade de magia, pelo contrário, o cenário felizmente oferece muito mais do que esse núcleo e com as referências da série não seria nada complicado para um grupo de jogadores criarem suas próprias escolas com características culturais especificas e localizadas onde bem entenderem. E um jogo poderia funcionar muito bem mesmo sem o uso de qualquer escola de magia.
Mas acima de tudo a série oferece bons conflitos e um bom conflito é o cerne de qualquer boa história. Existe sim magia no mundo, e criaturas sobrenaturais que raramente são benignas - incluindo os próprios magos - mas, os temas principais dos enredos envolvem o que faz dos personagens humanos ou monstruosos. São histórias de vícios - em magia, principalmente -, histórias de abusos de poder, traumas, estupro, recuperação, amizade, romance, sacrifícios pessoais, crueldade, escravidão, engano, traição e tantas outras que são intrínsecas à condição humana que é impossível não se conectar com algum personagem e seu drama. Para quem curte o tema, vale muito a pena conferir e de lá retirar boas ideias.
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